Nunca penso nisto, mas, e se morresse hoje?… Tinha pedido desculpa a toda a gente com quem tinha algo pendente? Tinha amado o suficiente? Tinha rido até não poder mais? Tinha viajado até não ter mais países para visitar? Tinha saído com todos os meus amigos e amigas para um bom vinho e uma boa conversa? Tinha dito à minha família o quanto gostava dela?
Estou a fazer-te esta pergunta, porque sim, se fosse eu na outra mesa, acho que ainda tinha muita coisa por dizer e por fazer.
As longas de mesas de madeira a fazerem lembrar uma taberna antiga, as árvores a cobrirem os 30 graus que se faz sentir e os esquilos sentados ao nosso lado a pedirem comida, é o meu sítio favorito para almoçar.
Hoje, por acaso, enquanto ia a caminho das mesas reparei que estava muita gente. Fiquei uns segundos a olhar e a 200 metros uma pessoa tinha acabado de se levantar e sentei-me logo aproveitando a oportunidade. Mesmo não estando no meu sítio habitual, estava perto o suficiente para aproveitar os esquilos e as árvores.
Quase no final da refeição comecei a ouvir as pessoas a falaram alto, mas quando olhei para o lado reparei que estava toda a gente a correr na direcção onde estava sentada, com ar de pânico e aos gritos.
Tenho de confessar que não estava preparada para uma situação de crise, demorei alguns segundos a reagir. Entre agarrar nas minhas coisas perguntar o que se passava e começar a correr sem saber para onde ir, passaram uns 10 segundos. Foi uma eternidade.
A questão aqui não é o pânico geral, é não saber onde está o perigo. É saber que, desde que cheguei já recebemos várias notícias de incidentes mas nunca tinha estado no epicentro.
Assim que entrei no edifício chamaram-me para entrar numa loja, trancaram as portas todas e fomos a caminho da cozinha para nos metermos na arca frigorífica. A regra, pensei para comigo era ficar longe das janelas em caso de balas e se alguém conseguisse entrar a arca frigorífica era o mais seguro.
Naquele momento tenho de conversar que estava muito nervosa. As histórias de atentados nas Universidades são frequentes, as pessoas ficarem fechadas à espera que encontrem os suspeitos também é frequente.
Definitivamente o Ser Humano tem cravado no ADN o instinto de sobrevivência como o primário. Numa situação destas é como reagimos ao medo que conta. É a rapidez da acção.
Para mim passaram 15 minutos e começaram a abrir as portas, quando saí vi que tinham apanhado o criminoso que estava no chão a ser algemado no mesmo edifício para onde tinha fugido.
Na rua estavam 40 carros da polícia, um dos Bombeiros e outro com ar de CSI. Os altifalantes ecoavam que não tínhamos autorização para estar perto da cena do crime e que deveríamos sair do campus o mais rapidamente possível.
Finalmente fui a caminho de casa, as fitas amarelas selavam uma das partes centrais do campus e sim o resultado foi uma pessoa morta ali mesmo, e três esfaqueadas.
Recebemos uma ameaça de bomba e não podemos sair de casa pois estão previstas “guerras” entre as fraternidades e os que são contra a Greek-Life (mais conhecida como as fraternidades e sororities).
Chamam ao dia de hoje o MayDay e sim, acontecem tantas coisas que isto não parece grave. Acho que é mais a sensação e o aparato gerado e no final pensar, não é grave porque não era eu que estava ali sentada…
Uma coincidência, mas podia ter sido eu sentada nas “minhas” mesas da taberna!
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